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O Grupo Senzala, formado no Rio de Janeiro, tem sua história iniciada desde 1963. Com  17 mestres (foram 34 cordas-vermelhas em sua história) e muitos professores ensinando Capoeira no Brasil e no mundo, tornou-se um dos mais importantes grupos na história da Capoeira moderna. A maioria dos grandes grupos de capoeira da atualidade foi influenciada pela metodologia de ensino desenvolvida pelo Grupo Senzala.

A história do grupo começa com três irmãos, na década de 60, Paulo, Rafael e Gilberto Flores. Sua família mudou-se de Salvador para o Rio de Janeiro e durante as férias escolares voltavam a Salvador. No início de 1963, em Salvador, levado por um primo capoeirista, Paulo passou dois meses treinando na academia de Mestre Bimba, junto com seu irmão Rafael.

Ainda em 1963, de volta ao Rio de Janeiro, decidiram continuar treinando e organizaram um treino semanal no terraço do prédio onde moravam, em Laranjeiras, com a participação de uma rapaziada da área. Paulo convidou um colega de Ipanema para participar de um treino, que veio e se entusiasmou; era o Fernando, mais tarde conhecido como Gato. O Rafael costumava dizer que sendo ele baiano, o Paulo nascido no Rio de Janeiro e o Gato de origem pernambucana, estava formada a tríplice base do futuro Grupo Senzala, da mesma forma que a capoeira surgiu em sua forma mais pujante em Salvador, Rio de Janeiro e Recife.

Aquele pequeno grupo de adolescentes começou a trocar experiências com outros grupos e academias do Rio de Janeiro, desde a capoeira de Sinhô (provavelmente a última manifestação da antiga capoeiragem do Rio de Janeiro, a capoeira dos malandros, da pernada carioca e do samba duro), até a capoeira do famoso Artur Emídio, com sua roda aos Domingos em Bonsucesso. Em 1964, Paulo e Gato representaram a Academia Santana em um torneio denominado Berimbau de Prata, em Santa Teresa, Rio de Janeiro, quando obtiveram o 3° lugar, atrás de academias famosas como Bonfim e Artur Emidio.

E os treinos de Sábado no terraço em Laranjeiras continuavam firmes. A turma do terraço ia aumentando, o irmão do Gato, Gil, que veio a se tornar Gil Velho, Eliseu Barra (in memoriam), Gorila, Antero, Sanfona, Bigode, Jimmy, William, Fala Mansa e outros.  A idade média do pessoal em 1964 era de 17 anos, a não ser pelos dois meninos de 9 e 10 anos de idade, do morro Dona Marta, sempre presentes nos treinos e exibições, o Sorriso e o Garrincha. O ano de 1965 foi de importantes novidades para o grupo. Neste ano, um show folclórico chamado Vem Camará, dirigido por um dos mais conhecidos capoeiristas da academia de Mestre Bimba, o Acordeon, trouxe a nata da capoeira regional da época. Acordeon, conhecido de Paulo e Rafael, foi no terraço e deu umas rasteiras na rapaziada, ensinando algumas malandragens e técnicas da Regional. Quando o show partiu, deixou no Rio de Janeiro um de seus mais jovens participantes, o Preguiça, um formado de Mestre Bimba que passou a fazer parte da rapaziada do terraço. Em 1965 chegaram uns companheiros que também haviam tido uma iniciação na capoeira e que vieram a se tornar membros importantes do grupo: Cláudio Danadinho, que morava em Brasília, o Itamar e o Peixinho.

Em 1966, durante uma exibição no Clube Germânico, o grupo foi apresentado pela primeira vez como Grupo Senzala, nome sugerido pelo Paulo Flores. Foram várias exibições e demonstrações de capoeira para diferentes públicos, programas de TV, Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Sala Cecília Meirelles, Campeonato Mundial de Judô, tendo sempre à frente o Rafael Flores, como porta-voz e líder. Em 1967, tornou-se conhecido pela vitória no torneio denominado Berimbau de Ouro, quando se apresentou com seus capoeiristas vestindo calças listradas e corda vermelha na cintura, descalços e sem camisas. Cada grupo ou associação fazia uma apresentação de capoeira do grupo e de uma dupla que deveria jogar por cinco minutos. O feito repetiu-se em 1968 e 1969, levando o nome da Senzala em todas as rodas e terreiros de capoeira do Brasil. Em 1967 e 1968, a dupla que representou o grupo foi o Preguiça e o Gato. Em 1969, os organizadores não permitiram a participação daquela dupla sob o argumento que poderia ser considerada de mestres, de forma que outra dupla representou o grupo, o Mosquito e o Borracha, que também levaram ao reconhecimento do Grupo Senzala como o melhor daquele festival. Os principais cordas-vermelhas, considerados por eles mesmos como membros do grupo, apenas capoeiristas, sem conotação de mestres, eram Rafael, Paulo, Gato, Preguiça, Gil Velho, Claudio Danadinho, Peixinho, Itamar, Borracha, Mosquito, Otávio e Maranhão no berimbau e grande cantador, além dos meninos Garrincha e Sorriso, que vieram a usar a corda vermelha posteriormente. Não se pode esquecer também um capoeirista que veio de Brasília para participar com o grupo do Berimbau de Ouro e que passou a usar a corda-vermelha, o Hélio Tabosa, que mais tarde trouxe o Fritz e o Adilson, que também adotaram a corda-vermelha em suas calças de treinamento.

O Grupo Senzala começou a ensinar em colégios, academias e universidades do Rio de Janeiro, levando essa arte popular em lugares pouco afeitos a este tipo de atividade.  Gato começou a ensinar na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Fundão, e na PUC, na Gávea, em 1968. Rafael começou a ensinar na Fundação Getúlio Vargas em 1969. Posteriormente ele passou aquela turma para o Itamar e o Mosquito A capoeira começava a atingir a classe média da zona sul do Rio de Janeiro, com turmas grandes, com mais de 30 alunos. Foi necessário desenvolver metodologias para ensinar esses grupos. A Senzala utilizava uma ginástica baseada nos próprios movimentos da capoeira. Originalmente treinando a partir do método da Regional, utilizando a seqüência de ensino e a cintura desprezada do Mestre Bimba, os cordas-vermelhas do grupo começaram a criar pequenas seqüências de treinamento de jogos baixos e médios e prática dos golpes para o desenvolvimento das técnicas e velocidade. Nas férias de verão, o pessoal ia a Salvador, treinava nas academias de Mestre Bimba e Mestre Pastinha, freqüentava as rodas de Valdemar e Traíra, e voltava trazendo as novidades, o tipo de movimento novo, a maneira de treinar, a organização da roda em cada escola, eram horas de discussão entre aqueles rapazes, sedentos de se desenvolverem no jogo apaixonante da capoeira. No Rio de Janeiro, a aproximação com o samba das escolas da zona sul, dos mestres Leopoldina, Artur Emidio e Roque, fazia a ponte desse grupo de adolescentes para mergulhar na riqueza da cultura popular carioca.

De 1968 a 1971, o Grupo Senzala ficou oficialmente baseado em um casarão da Rua Cosme Velho, a casa do Helinho, que convidou a rapaziada a usar um galpão que havia nos fundos de sua casa. As rodas de Sábado naquela casa ficaram famosas, com a capoeira rolando de 5 às 9 horas da noite, recebendo capoeiristas de todos os lugares, que ali encontravam um lugar de camaradagem, com boa capoeira, confraternizando no samba com a rapaziada popular dos morros do Cosme Velho. Ali foram capoeiristas da mais fina flor, como Leopoldina, Jair Moura, Camisa Roxa, Filhote de Onça, Itapoan, Acordeon, Cabeludo, Cebolinha, Macaco, Macaco Preto, Lua, Touro, Mentirinha, Korvo, e muitos outros. O Cosme Velho recebeu e deu as boas vindas ao grupo Senzala, capoeiristas como Baiano Anzol, Lua, Nestor, Bermuda e o baiano Santos Cipó. Nessa época, o Grupo Senzala começou a organizar uma estrutura de graduação para os novos alunos, onde o membro do Grupo, considerado um de seus representantes, seria um corda-vermelha e o iniciante corda branca, o aluno formado seria azul e depois foram criadas outras graduações, que o grupo conserva até hoje, tendo se recusado a alterar seu sistema quando, em 1972, foi iniciado um movimento para a regulamentação esportiva da capoeira. Em 1971 o Grupo teve que sair do Cosme Velho e mudou-se para a Associação dos Servidores Civis do Brasil – ASCB, ao lado do Canecão, onde ficou até 1975, quando se descentralizou e seus representantes passaram a desenvolverem seus trabalhos de forma mais independente. Foi na ASCB, em 1972, que o Camisa Roxa deixou seu irmão mais jovem, então com 17 anos, José Tadeu, que veio a ser mais um corda vermelha, mais tarde conhecido por Camisa, que teve uma participação muito importante na nova fase do Grupo, até seu auto afastamento, cujo processo iniciou-se de 1987 até 1990, quando criou uma nova associação, desligando-se assim formalmente do Grupo Senzala..

O Mestre Leopoldina teve importante papel na história do Grupo Senzala, participando de inúmeras exibições e rodas organizadas pelo grupo. Essa parceria começou desde quando o Mestre Leopoldina parou de ensinar no Fundão em 1967 e seus alunos Nestor e Bermuda, passaram a treinar no Grupo Senzala. Também o Mestre Roque, um baiano que ensinava no morro do Pavão e Pavãozinho, deu importante contribuição ao grupo, trazendo seu axé e berimbau nas rodas do Cosme Velho, incentivando os capoeiristas do Senzala a subirem o morro para jogar na sua academia e participarem dos ensaios de samba.

Em 1984, o Grupo Senzala participou da organização de um encontro nacional de capoeira no Circo Voador, que reuniu os principais grupos do Brasil, trazendo inclusive os mestres da velha guarda da Bahia e do Rio de Janeiro, como Valdemar, João Grande, João Pequeno, Caiçara, Jair Moura, Mucungê, Cangiquinha, Leopoldina, Artur Emídio, além de outros mais jovens como Itapoan, Eziquiel, Morais, Korvão, Mintirinha, Nacional, Touro, Hulk, Paulinho Godoy, Korvinho, Amarelinho, Medeiros, Martins e muitos outros. Em 1988, Rafael Flores organizou um encontro de capoeira histórico em Santa Luzia do Norte, no Espírito Santo, próximo à divisa com Minas Gerais e Bahia. Quase todo o Grupo Senzala participou, juntamente com mestres como Leopoldina, João Grande e João Pequeno.

De 1985 a 1989, os mestres Peixinho, Gato e Garrincha, participam como árbitros de Capoeira e palestrantes  nos Jogos Estudantis Brasileiros - JEBS, discutindo seu regulamento e o Projeto Capoeira - MEC.  Em 1991, o Grupo Senzala comemora os 25 anos de criação do grupo e 28 anos de história com um encontro nacional, aberto a todos os capoeiristas, com todos os cordas-vermelhas dando aulas.

De 1985 a 1995 aconteceram grandes mudanças no grupo. Alguns cordas-vermelhas pararam de treinar, outros saíram do grupo e passaram a desenvolver seus próprios trabalhos, como o Lua (Lua Rasta), Anzol, Camisa, Preguiça e Nestor (Nestor Capoeira). Alunos dos mestres Peixinho (China) e Garrincha (Samara, Grilo, Paulinho Boavida) foram para a Europa e começaram a ensinar capoeira na França e na Holanda; os mestres Peixinho, Toni Vargas, Garrincha e Sorriso, passaram uma temporada na Europa e ajudaram a organizar o Primeiro Encontro Europeu de Capoeira, em 1987, marcando o início do que ficou conhecido como a implantação da capoeira pedagógica na Europa; Gato morou um ano na Inglaterra e criou um grupo que começou a se desenvolver durante 1989/90, sempre encorajando seus capoeiristas a virem ao Brasil para treinar e viver um pouco do dia a dia do nosso país. A década de 90 viu os mestres do Grupo Senzala assumirem uma liderança no papel de organização de seminários e encontros de capoeira no Brasil, Europa e Estados Unidos.

Foram 17 os cordas-vermelhas que fizeram a história ou participaram do grupo e se afastaram, desenvolvendo seus trabalhos individualmente ou se mantendo longe da capoeira, todos eles tendo papel importante na história e no crescimento do grupo: Rafael, Preguiça, Borracha, Mosquito (in memoriam), Nestor, Anzol, Bermuda, Paulinho, Negão Muzenza (in memoriam), Caio, Lua, Camisa, Claudio Moreno, Arara, Mula e Marrom.

Atualmente os 17 cordas-vermelhas do Grupo Senzala em atividade são: Paulo Flores, Claudio Danadinho, Gato, Peixinho, Gil Velho, Garrincha, Sorriso, Itamar, Toni Vargas, Ramos, Elias, Amendoim, Beto, Feijão, Samara, Arruda e Azeite. Rafael Flores comunicou ao Gato recentemente que não fazia mais parte do Grupo Senzala. Mas todos do grupo o consideram parte intrínseca de sua formação e desenvolvimento, sem ele certamente não existiria o Grupo Senzala. Assim, o grupo considera que ele foi dar um rolê por aí e certamente um dia volta, AXÉ, RAFA!!

O Método

O Grupo Senzala tem sua origem na capoeira baiana, seguindo inicialmente o método da Capoeira Regional, onde o aluno deveria aprender a seqüência básica de ensino, a sequência da cintura desprezada (balões), as quedas e movimentos desequilibrantes, apresentar “ësquetes” (ataques e defesas em seqüências combinadas, contendo quedas, rasteiras e balões) e jogar nos diversos ritmos da Regional. A capoeira no Rio de Janeiro, na década de 1960 apresentava majoritariamente a capoeira baiana, trazida pelo mestre Artur Emidio, mas ainda havia um resquício da capoeiragem carioca, a capoeira dos malandros, das pernadas e do samba duro, representada pela capoeira de Sinhô. Sem a presença contínua de um mestre, recebendo a influência da capoeira existente no Rio de Janeiro naquela época e tendo necessidade de ensinar para grupos maiores de alunos, o grupo desenvolveu uma metodologia de ensino e  treinamento própria, caracterizada pelos seguintes aspectos principais:

Aquecimento e ginástica, desenvolvidos a partir dos fundamentos básicos da capoeira, utilizando a ginga e negaças no treinamento de ataques e defesas, fintas, movimentos de jogo alto, médio e baixo, praticando as esquivas e posições defensivas, as guardas, as descidas e subidas, os passos e passadas. Realizar esses treinamentos com todo o grupo de alunos gingando ao mesmo tempo e fazendo o condicionamento físico e muscular através de prática de posições e movimentos de capoeira, como bananeira, corta capim, aú com queda de rins, role, trocas de negativa variadas, dentre outros..
Treinamento de golpes e de seqüências de golpes em alvos leves e em saco de bater.
Treinamento dois a dois, simulando situações de jogo.
Treinamentos de ataques, defesas e contra-ataques.
Utilização de seqüências de treinamento, como as da capoeira regional, variações dessas seqüências com utilização de esquivas e defesas desenvolvidas a partir das existentes na seqüência de ensino da regional, como esquiva de frente, lateral, de lado. Treinamento de seqüências de jogo baixo e médio, procurando praticar as entradas de cabeçadas, rasteiras, bandas e tesouras.
Desenvolver a didática para o aprendizado, como treinar possíveis formas de ataques dos golpes, por exemplo fazer uma armada entrando em diagonal ao objetivo ou defendendo e contra atacando em diagonal.
Trabalhar a criatividade e espontaneidade do aluno, através de metodologia de ensino intuitivo.
Trabalhar o ritmo na movimentação e no jogo, através de treinamento seguindo diferentes ritmos, respeitando as Tradições e Rituais da Capoeira e seguindo os Fundamentos e Princípios do Grupo Senzala, descritos a seguir:
Jogo de Dentro
Ritmo de Jogo de Dentro.
Jogo de Iuna
Ritmo de Iuna.
Jogo de Angola
Ritmo de Angola, São Bento Pequeno ou São Bento Grande de Angola, médio ou lento.
Jogo de São Bento Grande
Ritmo de São Bento Grande de Regional ou São Bento Grande de Angola rápido.

Fundamentos e Princípios do Grupo Senzala

Segundo Doutor Decânio, iniciado pelo Mestre Bimba em 1938 e um pensador de nossa arte, os Fundamentos da capoeira baiana são:
“A prática da capoeira se desenvolve obedecendo aos seguintes parâmetros:

ritmo ijexá regido pelo berimbau;
movimentos rituais ritmodependentes;
disciplina e respeito à tradição, aos mais velhos e aos companheiros;
parceria;
movimentos em esquiva, circulares e descendentes;
dissimulação de intenção;alerta, calma, relaxamento e autoconfiança permanentes
estado de consciência modificado (transe capoeirano); ;” (Informações Gerais Sobre a Capoeira da Bahia, www,capoeiradabahia.com.br)
Os mestres do Grupo Senzala procuram praticar e ensinar a capoeira segundo os seguintes fundamentos e princípios:

respeito às tradições e rituais da capoeira, com o ritmo do jogo comandado pelo berimbau gunga
respeito aos capoeiristas e mestres mais velhos, construção e manutenção de um ambiente de camaradagem e receptivo aos capoeiristas de todas as origens
disciplina, desenvolvimento do um nível técnico dos capoeiristas e estabelecimento de um padrão de condicionamento físico no nível de um atleta
cultivar a humildade e o esforço de aprender com cada parceiro de jogo
desenvolver a percepção do ritmo e do outro, buscando sempre uma situação favorável no jogo e não se deixando surpreender, mas aceitando de bom humor as pegadas e buscando com tranqüilidade sua revanche.

História do Grupo Senzala de Capoeira

 

Tel :(27) 9628-8631 Prof: Frank 

E-mail : franksenzala@hotmail.com
 

Contato:

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